Até dez

Contei até quatro várias vezes e depois deixei-me ficar. Não me lembrava de mais. Sei que os sabia, mas os números não saíam. Olhei de novo para ti, à espera de alguma ajuda da tua parte. Apenas anuiste com a cabeça, como quem diz "está tudo bem". Queria lembrar-me mas a memória não mo permitia e, por mais esforço que fizesse, o cinco não me vinha à cabeça.
Quis chamar pelo teu nome, mas disse o nome errado. Já nem disso me recordava. Olhei para ti à espera de alento. Sempre foi essa a minha forma de sentir calma quando isto me acontecia. Apesar de não me recordar, tinha a sensação de que me percebias.
Algo mais distante de mim falhava, sem que eu pudesse ter qualquer tipo de controlo sob isso.
"Cinco", disseste tu. Não me fez qualquer tipo de sentido. Pareceu um número aleatório, deitado ao acaso no meio de uma conversa da qual nem tinha a mínima noção de estar a acontecer.
"Cinco ?", perguntei eu sem saber o porquê de o estar a perguntar. Por esta altura, já nem sabia quem tu eras e o que estavas ali a fazer. "Sim, cinco... É o número que vem depois do quatro", sussuraste tu num tom cansado e monocórdico, exausto por insistir ao fim de tantos anos.
"Um, dois, três, quatro, cinco...", apressei-me eu a contar enquanto tu sorriste e disseste:
- Amanhã, aprendemos o seis.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Copyright © . Todos os direitos reservados. É necessária a autorização do autor para a reprodução de conteúdos.

Webdesign Color and Code e helpblogger.com