Quarenta e cinco graus

Há muito tempo que não tenho qualquer motivo para escrever. E também já há muito tempo que não pego numa caneta com o intuito de rabiscar seja o que for. Apesar disso, sei bem a falta que me faz libertar-me do que vai cá dentro. Por vezes, é-me suficiente ver os traços meio dissimulados das letras que vão formando palavras que podem, ou não, fazer sentido. Faz-me muita falta olhar para uma folha pautada cheia de letras redondas pintadas a azul.
Deixei a esferográfica pousada tempo demais. E só agora me apercebi que muitas vezes sinto o ímpeto, a vontade, o impulso... Mas não me sinto capaz. Por isso, não peguei na caneta desta vez. Vim escrever num teclado, enquanto olho para uma tela sinistra chamada de monitor. O teclado está sujo de cinza do tabaco que fumo e de impressões digitais das pessoas que por aqui vão passado.
Não fui sequer capaz de encarar uma folha. Meti tanto a caneta, bem como a folha bem perto de mim. A tampa foi retirada à caneta e posta de lado, como se dissesse a mim mesma que estou disponível para começar algo que nem eu mesma estou certa do que seja. A folha foi colocada a proveito para que pudesse escrever algo sincero. Mas não consegui. Quando olho, vejo apenas a esferográfica azul, a quarenta e cinco graus, pousada numa folha branca, imóvel, pura e limpa.
Sempre disse que nunca iria escrever neste blogue. Seriam apenas pensamentos aleatórios que viriam aqui parar. Parece que menti. Ou, simplesmente, as premissas mudaram e este texto faz parte da evolução. Gosto de pensar que se trata da segunda hipótese. Apesar da primeira não ser mentira.
Deste-me motivos para escrever e não sei se gosto disso.

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