Cartas à Minha Mãe #1

Lisboa, 1 de Maio de 2013

Querida Mãe,

Ultimamente as coisas não andam bem. A ansiedade tem-se apoderado de mim.

Tenho vivido numa vala apertada, demasiado opressiva e descomedidamente sufocante. Enquanto estou no fosso vou deixando que um desconhecido o atulhe com pedaços enormes de terra, misturados com pedras afiadas que me atingem o crânio. Sobra o sangue que pinga lentamente entre os meus cabelos. Gosto de lhe tocar apenas para o sentir, não o quero limpar. Quero que se torne numa memória daquilo que estou a fazer a mim mesma. Por isso, espalho-o pela cara, pelos braços e pelas mãos. Provo-o com os lábios. É real. Mesmo estando a ser enterrada, sei que estou viva enquanto houver sangue para o corroborar.

Os dias têm sido difíceis e as noites têm sido ainda mais complicadas. É como se diz, as madrugadas trazem pensamentos e atrás deles vem, muitas vezes irreflectidamente, a vontade de tomar atitudes das quais nos arrependemos na manhã seguinte.

Tenho-me arrependido.

Comecei esta carta por sentir a urgência em expressar o que vai aqui dentro e não por ter tido vontade de te dizer alguma coisa. Aliás, se eu estivesse no meu perfeito juízo nunca teria partilhado isto contigo. Sei que te preocupas, talvez demais. Não te quero enlouquecer com a minha loucura. Não quero que saias porta fora. Quero que fiques. Será demasiado pedir-te que o faças para sempre?

Até logo,
Marta.

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