Cartas Deitadas ao Rio #1

Lisboa, em tempo incerto

Tu que nunca me ouves,

Já faz tempo que não te via. Nem um vislumbre. Nem sequer uma simples imaginação da tua imagem. Tenho vindo a sentir a tua falta. Falta do que me fazes sempre sentir. Falta que provoques em mim a tal sensação incontornável de ansiar desesperadamente por te ter.

Preto. A tua não-cor, da qual usas e abusas como rei fidalgo pouco democrático e senhor de si. Sim, rei. Príncipe revelou-se ser pouco ao longo dos anos. Tinhas crescido. Eras um homem. E o título que outrora te assentava tão bem era agora desmedidamente despropositado.

Faz tempo que não via a tua cara. Acho que acabei por me esquecer dos teus traços e linhas ténues, dispersos num rosto amargo, marcado por demasiados anos de pura tristeza. Tudo em ti é puro, até mesmo aquilo que te mata. Se os teus olhos fossem livros, seriam daqueles dos quais arranco as páginas para guardar memórias que sempre teimam em fugir.

Mas sempre que isso acontece, eu teimo ainda mais em correr, simplesmente, para as agarrar.

Marta.

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