Sombras
A vista da janela parece-me ser apetecível quando entro no meu quarto, olhando-a pela porta. O vislumbre da noite é magnético e faz-me aproximar, sem qualquer tipo de hesitação. Pouso os ombros sob os ferros frios da varanda que separa o meu corpo da paisagem que observo lá fora.
O horizonte é demasiado largo e distante. Tenho toda a pressa em percorrê-lo com os meus olhos, enquanto teço pensamentos com a mente. Cruzo os braços, rasgo um sorriso e inclino o corpo para a frente. Sei que não vou cair e, por isso, deixo-me ficar. Vou observando as cores, as luzes, as casas e a profundidade do céu. As estrelas são poucas e a única nuvem sou eu.
Olho para a esquerda, procurando pela Lua. É provável que tenha decido noivar no dia seguinte pois não apareceu. E vou sonhando, vou pensando... Deixo-me levar.
Hoje será um dia diferente dos outros, visto que até agora têm sido todos iguais. Digo a mim mesma que quero mostrar-me como sou. Talvez o que fiz até agora tenha sido isso mesmo. Paro. Paro para pensar, para agir, para ter noção daquilo que sinto. E, de repente, tenho a estranha sensação de que é de dia apesar de estar escuro lá fora.
Os meus olhos desatentos querem logo olhar para dentro do quarto em busca de um cigarro que prontamente acendo e, ao colocá-lo entre os lábios, olho o céu mais uma vez, tendo a ultimadora confirmação de que não é de dia. Tudo em volta está negro, o céu sem azul. As árvores tremem à passagem do vento e o cantar dos grilos acelera à medida que o cigarro se apaga entre os meus dedos.
"Gostava que estivesses aqui"...
Saído do Baú #1
De esmola vive o pobre entre o frio das ruas
Mas de desgraça vive o rico entre quatro paredes,
Dentro da sua própria casa cria a ruína.
Não espero encontrar nada mais do que vaidade
Na cabeça de gente vil que morre de ódio cru,
Dentro da sua própria casa cria a inveja.
Se não ouves o vento é porque já não vais a tempo
De ser o pobre que pede apenas para ser feliz.
Marta F. Cardoso - 26.03.2008
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Mas de desgraça vive o rico entre quatro paredes,
Dentro da sua própria casa cria a ruína.
Não espero encontrar nada mais do que vaidade
Na cabeça de gente vil que morre de ódio cru,
Dentro da sua própria casa cria a inveja.
Se não ouves o vento é porque já não vais a tempo
De ser o pobre que pede apenas para ser feliz.
Marta F. Cardoso - 26.03.2008
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