Cartas Deitadas ao Rio #1

Lisboa, em tempo incerto

Tu que nunca me ouves,

Já faz tempo que não te via. Nem um vislumbre. Nem sequer uma simples imaginação da tua imagem. Tenho vindo a sentir a tua falta. Falta do que me fazes sempre sentir. Falta que provoques em mim a tal sensação incontornável de ansiar desesperadamente por te ter.

Preto. A tua não-cor, da qual usas e abusas como rei fidalgo pouco democrático e senhor de si. Sim, rei. Príncipe revelou-se ser pouco ao longo dos anos. Tinhas crescido. Eras um homem. E o título que outrora te assentava tão bem era agora desmedidamente despropositado.

Faz tempo que não via a tua cara. Acho que acabei por me esquecer dos teus traços e linhas ténues, dispersos num rosto amargo, marcado por demasiados anos de pura tristeza. Tudo em ti é puro, até mesmo aquilo que te mata. Se os teus olhos fossem livros, seriam daqueles dos quais arranco as páginas para guardar memórias que sempre teimam em fugir.

Mas sempre que isso acontece, eu teimo ainda mais em correr, simplesmente, para as agarrar.

Marta.
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Mar? Alto!

Nada soa mais assustador do que ter o peso da responsabilidade de fazer os outros felizes. Minto. Nada de mais assustador há do que sermos os comandantes da nossa própria felicidade. Embarcar num navio sem saber navegá-lo, controlando quem poderá ter o privilégio de partilhá-lo connosco. Podemos sempre decidir atirar-nos ao oceano quando o mar é bravo e não sabemos como enfrentar as ondas. Também podemos voltar àquilo que conhecemos e atracar em porto seguro quando a bússola perde o compasso. Mas a verdadeira liberdade está em seguir caminho rumo ao desconhecido, estejamos nós preparados ou não. Creio que uma das coisas que mais me apoquenta na vida é a desistência, é o rumar directo a terra quando o mar nos assusta. Tu apoquentas-me. Quiseste navegar este mar alto sabendo que velejavas num barco de papel. Admirar-te-ia pelo acto de coragem e bravura se não tivesses regressado a terra mal sentiste o embate da primeira onda. Afinal, minto desde o início. Nada de mais assustador existe do que amar alguém genial que se limita ao medíocre.
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Random Question #5



O Diabo é uma figura de estilo, imaginada, que em sonhos te implanta ideias que te levam à acção.
Mas se nós sonhamos com aquilo que estamos a fazer, estaremos, de facto, a agir?

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Carta à Irmã mais Velha #1

Lisboa, 9 de Fevereiro de 2014

Mana,

Às vezes imagino-me sem ti.

E mentiria se dissesse que por vezes a ideia não me soa bem. Só que rapidamente percebo que é impossível ser a mesma pessoa quando não estás por perto.

Desde que me conheço, que te conheço a ti também. Cresci contigo lado a lado. Já fui mais baixa do que tu, já fui da mesma altura e, agora, apenas uns centímetros nos separam. Apesar disso, serei sempre a tua pequenina, mesmo que a minha cabeça faça razia às nuvens.

Num sentido figurado, por vezes até faz. E tu sabe-lo bem. Conheces-me melhor do que ninguém. Sabes quem sou desde o início. Eu de ti falho por 6 anos e meio. Tu de mim não falhas nem por um segundo. Por isso é que ser o mais velho é especial. O mais novo basta nascer para estar à partida a falhar. É um errante, condenado a ser protegido por aquele que veio ao mundo em primeiro lugar.

Ainda bem que nasci com essa sentença.

É prisão perpétua. É um elo magnético tão forte que te prende a mim.

E é ridículo pensar que, mesmo depois de tudo o que me dás, a única coisa que te consigo dar em troca é um "deixa-me em paz" como se não precisasse de ti. Não fiques triste... Sou apenas eu a tentar ser como tu.

Até logo,
Marta.
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